Desacelerando 01/01/2025

    Se você, como eu, já caiu no vórtice das redes sociais, provavelmente não conseguirá ler esse texto até o fim. Em algum ponto, ele se tornará tão desinteressante que seu cérebro, em busca de dopamina, simplesmente desistirá. O problema atual é de dupla ordem: qualquer tempo ocioso ou reflexivo é interpretado como tempo perdido ou ‘não vivido’ no conceito social. Porém, o mesmo não é dito quando se passa cinco horas em uma sequência interminável de vídeos, consumindo informações que, ao fim do dia, mal sabemos se nos acrescentaram algo.

    Em meados de março de 2024, me vi preso nesse limbo cíclico: o Samsara da internet. Um lugar perfeito para portadores da FUCK (um termo cunhado por mim), onde tudo é raso, rápido e novo… Mas, ao mesmo tempo, vazio. Os nichos que mais me atraíam eram os de rotina; pessoas que pareciam realizar em poucas horas o que eu demorava dias. Pelo menos, era o que elas deixavam transparecer, e eu sonhava em alcançar esse ritmo também. Em certo ponto, eu já tinha toda a informação necessária para transformar minha vida a partir desses vídeos. Mesmo assim, permanecia sempre na fase de preparativos, revisitando os mesmos conteúdos religiosamente, como se algo novo pudesse surgir na repetição dos videos.

    A ideia de estar a todo momento improving yourself realmente tinha me capturado. A pressão de ser produtivo, otimizado e perfeito parecia irresistível, foi então que vi um podcast do Joe Rogan falando sobre Byung Chul e comecei a entender as raízes desse status quo – uma dinâmica exaustiva que é diariamente alimentada pelas redes sociais. Foi então que percebi tudo o que eu queria ter ou fazer era fruto direto do que via outras pessoas exibirem no Instagram e TikTok. A originalidade das minhas aspirações havia se perdido nessas idealizações. A partir desse ponto, comecei a elencar coisas que realmente faziam sentido para mim e a organizá-las em um sistema de timeboxing. Estudar, correr, ler… O foco deixou de ser o conteúdo em si e passou a ser o ritmo: fazer um pouco todos os dias, sem me perder em comparações irreais. Quando percebi que o que as pessoas postam nas redes sociais são apenas fragmentos selecionados de seus meses, e não um reflexo honesto de suas vidas, algo mudou. Deixei de me cobrar tanto e comecei a entender que a importância da constância.

Desde que entrei na universidade, o antigo Twitter se tornou minha principal fonte de informação. Assistir a jornais na TV já não fazia parte da minha rotina; eu ligava a televisão apenas para assistir futebol ou algum filme. Não é necessário detalhar aqui os danos que aquela rede pode causar à nossa saúde mental. Se tivesse que resumir em uma frase, diria que é um ambiente onde reinam eternas discussões irrelevantes. Prometendo resolver questões milenares intrínsecas ao ser humano.

    Como diria Morpheus em Matrix

O que você sabe com certeza é que, se continuar, verá coisas que não pode explicar

    Ainda assim, conheço pessoas que usam a plataforma com sobriedade, conseguindo se expressar para um público específico. Essas pessoas merecem aplausos por suportarem a toxicidade daquele espaço e transformá-lo em algo produtivo. Por isso, decidi mudar minha abordagem: agora separo horários do meu dia para visitar sites e podcasts com matérias relevantes e atualizadas. Assim, troco a raiva que antes sentia por uma alienação moderada de conteúdos de fontes como a Reuters. Pode até ser alienação, mas pelo menos me permite formar opiniões com um pouco mais de clareza. Além disso, consigo evitar a armadilha da pós-pós-verdade, que é constantemente alimentada pelas redes sociais.

    A simples pós-verdade já ficou para trás, atropelada por uma manada de usuários sedentos por novas informações para alimentar suas pseudonarrativas e desqualificar todo o resto. Me assustei ao perceber que um ambiente com excesso de informação não fez ninguém evoluir como sociedade. Pelo contrario, relativizou qualquer tipo de conteúdo, já que não é mais possível confiar em nada que se passa na internet. O importante é que eu já desisti, não me importo muito.

Living is easy with eyes closed
Misunderstanding all you see
It's getting hard to be someone, but it all works out
It doesn't matter much to me

    Meu 2025 será fugindo desse Truman’s Show o máximo que eu puder. Vivendo à margem do raso mundo online, preenchido por pessoas ainda mais rasas. Não serei mais um personagem nesse cenário pré-fabricado, alimentando um ciclo interminável de atenção. O mundo real tem muitos defeitos, mas ao menos ele é a verdade.

    Aos que me acompanharão nessa fuga esperem muitos livros, filmes, músicas e, claro, reclamações no ano que vem.

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